sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

ARMINDO AUGUSTO

.



"Andrée Crabée Rocha agradece muito sensibilizada a oferta de "Miguel Torga,o Drama de existir",um dos poucos estudos sérios sobre a obra do poeta" (Crabée Rocha, esposa do poeta Miguel Torga)
_________________________________

Paris,19 de Junho de 1997

Dr. João Magalhães Gonçalves
Caro Senhor
“ Gostaria de agradecer, calorosamente, o envio do livro “Miguel Torga, o Drama de Existir”. (….) É evidente que eu não partilho de todas as análises de Frei Armindo Augusto - o sentido do sagrado em Torga parece-me de essência mais pagã do que cristã, ou melhor parece-me escapar a todas etiquetas da história das religiões - mas o conjunto é de grande profundidade, o homem e o escritor foram profundamente compreendidos e amados. Teve mil vazes razão para reeditar e prefaciar esta obra fundamental. Obrigado ainda por ter pensado em me oferece r a leitura! Peço-lhe que acredite, senhor e caro colega, na minha simpatia muito respeitosa”. (tradução do Francês)
Louis Soler

____________________________



ARMINDO AUGUSTO DE CARVALHO- "ESCRITOS INCOMPLETOS"

É difícil escrever sobre Armindo Augusto de Carvalho, franciscano, escritor, pregador.
Nasceu no Franco, concelho de Mirandela, a 3 de Maio de 1918.
Inteligência invulgar, servida por uma erudição basta e indiferenciada que estruturou toda a sua actividade da escrita e da pregação. Ordenara-se Sacerdote a 27 de Julho de 1941. Os seus sermões deram-lhe um lugar destacado na Oratória do seu tempo.
Esta edição dos seus escritos conhecidos, peca por tardia. As suas publicações dispersaram-se pelas mais variadas publicações: Boletim Mensal, Diário de Notícias, Itinerarium onde publica "O Drama de Miguel Torga" em 1960,mais tarde editado em separata. Foi o primeiro escritor analisar, de modo sistemático, a obra do poeta “um escritor de ideias atormentadas, inconformistas.Ele vive intensamente o drama do actual pensamento europeu”, que Andrée Rocha considerou como “um dos poucos estudos sérios sobre a obra do poeta”.
Fez vários sermões sobre S. Francisco, S. António, sobre Santa Clara, e sobre os mais variados assuntos. Escreveu um artigo, incluído na Colectânea “Em louvor de Santa Clara” que organizou e devido a questões internas esteve para não ser publicado, só os concelhos do P.e Capela o demoveram e levaram finalmente a publicar. Aí floresce radiante a sua perspicácia poética e a sua alma franciscana. Vestiu o hábito franciscano em 7 de Setembro de 1934.
O mais surpreedente de toda esta Colectânea, ESCRITOS INCOMPLETOS, a parte que vai designada por Mística das Actividades, é a abordagem teórica e em profundidade da orientação Marxista., quando noventa e nove por cento do povo português nem o nome lhe sabia. Discorre sobre a política, o seu carácter, as verdades e as mentiras, os meios de repressão utilizados, para a sobrevivência de toda a doutrina social ligada e manipulada pelos detentores de poder. Aborda depois o Existencialismo, um estado de alma característico da Europa, desde Nietzsche e Kierkegaard.
Honra-nos esta memória, que emerge como reconhecimento a um dos espíritos mais brilhantes do seu tempo que, devido à inércia, alimentada por um sentido de fraternidade paradoxal, leva a lançar no ostracismo os espíritos mais lúcidos que foram maiores do que a sua época.
Os três artigos que fariam parte do livro CRISTIANISMO,não passaram de um desejo, pois nunca chegou a ser realizado,a par do artigo “A Enfermeira do Poeta Cego”, são dos mais aliciantes, pelo seu entusiasmo contido, pelo conteúdo, pelo tom um tanto oratório, barroco, ao estilo de António Vieira, aos peixes do Maranhão.
Comentando uma palavra de Sebatier que diz, lamentando que não houvesse ficado no Cântico do Irmão Sol uma estrofe sobre Santa Clara,responde o P. Armindo:"Essa estrofe se não esteve nos lábios de S. Francisco, esteve certamente no seu coração". O P. Armindo intuiu esta presença na poesia de Francisco.
Em 1960 publica “O Drama de Miguel Torga”, que considera “ um escritor de ideias e de ideias atormentadas, inconformistas. Ele vive intensamente o drama actua do actual pensamento europeu. Ele vive-o à nossa maneira portuguesa.” Isto foi escrito há 50 anos. Anos mais tarde, Miguel Torga despede-se “ dos seus semelhantes sem azedumes e sem ressentimentos, na paz de ter procurado vê-los e compreendê-los na exacta medida (…) De alguma coisa me hão-de valer as cicatrizes de defensor incansável do amor, da verdade e da liberdade, a tríade bendita que justifica a passagem de qualquer homem por este mundo” (Diário XVI, 190-200)
Frei Armindo Augusto de Carvalho veio a falecer no Porto a 17 de Janeiro de 1984. E num dia 17, mas de um Janeiro carrancudo de 1995, juntar-se-lhe-ia Miguel Torga a retomar as conversas interrompidas, no velho consultório do Largo da Portagem, agora, muito possivelmente, para abordar um tema tão caro as dois: FRANCISCO DE ASSIS, com Torga já a pegar na conversa a meio: “…o meu santo (…) Um Cristo do mundo à medida do mundo” (Diário XIII, 190).
-------------------------------------
1 Em Louvor de Santa Clara, 1253-1953, Montariol, Braga

João M. Gonçalves

Sem comentários:

Enviar um comentário