domingo, 31 de janeiro de 2010
sábado, 30 de janeiro de 2010
JUNTOS DE NOVO
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JUNTOS DE NOVO
Reuniram-se, na Fraternidade de N. S. dos Anjos em Setúbal, o Frei João Magalhães Gonçalves, o Frei João Dias Vicente e o Frei Armindo de Jesus Ferreira Carvalho, após vários anos de afastamento. Ordenaram-se sacerdotes em 1963O João Magalhães, nasceu em Jou, concelho de Murça, distrito de Vila Real. Ordenado em 15 de Agosto, trabalhou primeiro em Lisboa, depois na Guiné, em Angola e em Moçambique, vivendo agora em Setúbal. Em Lisboa no Bairro Padre Cruz, na Guiné foi secretário do Perfeito Apostólico.
Partiu para Angola onde foi Capelão Militar. A 14 de Dezembro vai para Moçambique, sendo colocado na cidade da Beira como coadjutor da paróquia da Catedral, mais tarde colaborador das Rádio Pax e director do Internato “Lar D. Rafael”.
Em 1973 vai para Chimoio, para o Seminário de Santo António onde ensina Português.
Transitou para o Ensino Oficial de Moçambique em 1974 e, após a nacionalização do Ensino, vai leccionar na Escola de Regentes Agrícolas, Escola Joaquim Mara e na, então ainda denominada, Escola Baltazar Rebelo de Sousa.
Regressa a Portugal a 30 de Dezembro de 1976, sendo integrado no Ensino Oficial Português, sendo colocado na Póvoa de Varzim (1977), Vila Real, 1978.80), Setúbal (1980-2005) Reformou-se em Julho de 2005. Continua na Fraternidade de N. S. dos Anjos.
João Dias Vicente nasceu em Palhota, freguesia e concelho de Vila de Rei. Ordenado sacerdote em 21 de Julho de 1963, trabalhou em Lisboa, licenciou-se em História na Faculdade de Letras de Lisboa (1965-70), foi Capelão Militar da Armada no Lago Niassa, em Moçambique (1970-72), professor e Vice-Mestre de Postulantes na Fraternidade Franciscana de Leiria (1973-75).
Em 11 de Novembro de 1975 partiu para a Missão Franciscana da Guiné-Bissau, onde ainda continua. Aí exerceu actividades pastorais nas paróquias da Catedral (Nossa Senhora da Candelária) e Bandim (1955-88). Foi Vigário Geral da Diocese de Bissau (1988-2000), participando nos momentos supremamente reconfortantes da visita do Papa João Paulo II, em 1990, mas também nas agruras e ansiedades da guerra civil (1998-99). No referente à vida Francisca foi Delegado do Ministro Geral da Ordem para a África Ocidental (1986-88) e de Dezembro de 2005 a Março de 2009, foi o primeiro Custódio da nova Custódia independente “S. Francisco de Assis” da Guiné-Bissau, envolvendo os frades italianos, guineenses e portugueses. Actualmente é Vigário dessa mesma Custódia e Mestre de professos temporários.
Valores em que acredita, valem a pena e pelos quais se bate:”os pobres também são gente”, “implantação do carisma franciscano (também na Guiné-Bissau) ”.
Qualidades e feitio. determinação e responsabilidade no que crê e faz.
Armindo Carvalho nasceu em Janardo, freguesia de Marrazes, concelho e distrito de Leiria, ordenado sacerdote em 21 de Julho de 1963, foi coadjutor na Freguesia de Carnide (Pontinha).
Em 18 de Dezembro de 1966, parte para as Missões de Moçambique, Inhambane, onde desenvolveu a maior parte do seu trabalho missionário, durante, aproximadamente 16 anos.
Em 1982 é nomeado pároco de Santo António da Polana e superior da Fraternidade Franciscana, onde se dedicou de alma e coração ao trabalho paroquial e missionário. Na Polana, a população europeia e, na periferia a população moçambicana mereceram-lhe o mesmo carinho e desvelo, cuidado e dedicação.
Perfil de simplicidade, bondade e disponibilidade e o condão de cativar religiosos e leigos ao serviço dos mais necessitados, no Caniço A, Caniço B S. Francisco e Costa do Sol.
Regressa definitivamente a Portugal em 2de Novembro de 2004.
Foi Reitor do Santuário de Santo António em Lisboa e actualmente trabalha no Convento de Santo António, em Torres Vedras.
.
A CAMINHO
“Eis que vos mando
como ovelhas para o meio de lobos!”
A galgar fronteiras
em mapas por inventar
sem colinas nem vales
a direito
mãos postas!
nas chagas
onde mais dói ao meu coração de Pai
...o caminho é longo
abri-me esses olhos
e o coração
ao cansaço de viver
à dor envergonhada
à esperança escorraçada
de tantos olhos enxutos
as lágrimas contidas, as chagas
e o cansaço
em verdade vos digo
são Meus!
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JUNTOS DE NOVO
Reuniram-se, na Fraternidade de N. S. dos Anjos em Setúbal, o Frei João Magalhães Gonçalves, o Frei João Dias Vicente e o Frei Armindo de Jesus Ferreira Carvalho, após vários anos de afastamento. Ordenaram-se sacerdotes em 1963O João Magalhães, nasceu em Jou, concelho de Murça, distrito de Vila Real. Ordenado em 15 de Agosto, trabalhou primeiro em Lisboa, depois na Guiné, em Angola e em Moçambique, vivendo agora em Setúbal. Em Lisboa no Bairro Padre Cruz, na Guiné foi secretário do Perfeito Apostólico.
Partiu para Angola onde foi Capelão Militar. A 14 de Dezembro vai para Moçambique, sendo colocado na cidade da Beira como coadjutor da paróquia da Catedral, mais tarde colaborador das Rádio Pax e director do Internato “Lar D. Rafael”.
Em 1973 vai para Chimoio, para o Seminário de Santo António onde ensina Português.
Transitou para o Ensino Oficial de Moçambique em 1974 e, após a nacionalização do Ensino, vai leccionar na Escola de Regentes Agrícolas, Escola Joaquim Mara e na, então ainda denominada, Escola Baltazar Rebelo de Sousa.
Regressa a Portugal a 30 de Dezembro de 1976, sendo integrado no Ensino Oficial Português, sendo colocado na Póvoa de Varzim (1977), Vila Real, 1978.80), Setúbal (1980-2005) Reformou-se em Julho de 2005. Continua na Fraternidade de N. S. dos Anjos.
João Dias Vicente nasceu em Palhota, freguesia e concelho de Vila de Rei. Ordenado sacerdote em 21 de Julho de 1963, trabalhou em Lisboa, licenciou-se em História na Faculdade de Letras de Lisboa (1965-70), foi Capelão Militar da Armada no Lago Niassa, em Moçambique (1970-72), professor e Vice-Mestre de Postulantes na Fraternidade Franciscana de Leiria (1973-75).
Em 11 de Novembro de 1975 partiu para a Missão Franciscana da Guiné-Bissau, onde ainda continua. Aí exerceu actividades pastorais nas paróquias da Catedral (Nossa Senhora da Candelária) e Bandim (1955-88). Foi Vigário Geral da Diocese de Bissau (1988-2000), participando nos momentos supremamente reconfortantes da visita do Papa João Paulo II, em 1990, mas também nas agruras e ansiedades da guerra civil (1998-99). No referente à vida Francisca foi Delegado do Ministro Geral da Ordem para a África Ocidental (1986-88) e de Dezembro de 2005 a Março de 2009, foi o primeiro Custódio da nova Custódia independente “S. Francisco de Assis” da Guiné-Bissau, envolvendo os frades italianos, guineenses e portugueses. Actualmente é Vigário dessa mesma Custódia e Mestre de professos temporários.
Valores em que acredita, valem a pena e pelos quais se bate:”os pobres também são gente”, “implantação do carisma franciscano (também na Guiné-Bissau) ”.
Qualidades e feitio. determinação e responsabilidade no que crê e faz.
Armindo Carvalho nasceu em Janardo, freguesia de Marrazes, concelho e distrito de Leiria, ordenado sacerdote em 21 de Julho de 1963, foi coadjutor na Freguesia de Carnide (Pontinha).
Em 18 de Dezembro de 1966, parte para as Missões de Moçambique, Inhambane, onde desenvolveu a maior parte do seu trabalho missionário, durante, aproximadamente 16 anos.
Em 1982 é nomeado pároco de Santo António da Polana e superior da Fraternidade Franciscana, onde se dedicou de alma e coração ao trabalho paroquial e missionário. Na Polana, a população europeia e, na periferia a população moçambicana mereceram-lhe o mesmo carinho e desvelo, cuidado e dedicação.
Perfil de simplicidade, bondade e disponibilidade e o condão de cativar religiosos e leigos ao serviço dos mais necessitados, no Caniço A, Caniço B S. Francisco e Costa do Sol.
Regressa definitivamente a Portugal em 2de Novembro de 2004.
Foi Reitor do Santuário de Santo António em Lisboa e actualmente trabalha no Convento de Santo António, em Torres Vedras.
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A CAMINHO
“Eis que vos mando
como ovelhas para o meio de lobos!”
A galgar fronteiras
em mapas por inventar
sem colinas nem vales
a direito
mãos postas!
nas chagas
onde mais dói ao meu coração de Pai
...o caminho é longo
abri-me esses olhos
e o coração
ao cansaço de viver
à dor envergonhada
à esperança escorraçada
de tantos olhos enxutos
as lágrimas contidas, as chagas
e o cansaço
em verdade vos digo
são Meus!
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JUNTOS DE NOVO
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
CAFÉ CURTO
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Num café
em Samora Correia,
leio-te “À flor do verso”.
O café curto ficou a meio
e arrefeceu.
Não perguntes
para que vale me correm as lágrimas,
irmão!
Henrique Campos
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Num café
em Samora Correia,
leio-te “À flor do verso”.
O café curto ficou a meio
e arrefeceu.
Não perguntes
para que vale me correm as lágrimas,
irmão!
Henrique Campos
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Café Curto,
Henrique Campos
ARMINDO AUGUSTO
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"Andrée Crabée Rocha agradece muito sensibilizada a oferta de "Miguel Torga,o Drama de existir",um dos poucos estudos sérios sobre a obra do poeta" (Crabée Rocha, esposa do poeta Miguel Torga)
_________________________________
Paris,19 de Junho de 1997
Dr. João Magalhães Gonçalves
Caro Senhor
“ Gostaria de agradecer, calorosamente, o envio do livro “Miguel Torga, o Drama de Existir”. (….) É evidente que eu não partilho de todas as análises de Frei Armindo Augusto - o sentido do sagrado em Torga parece-me de essência mais pagã do que cristã, ou melhor parece-me escapar a todas etiquetas da história das religiões - mas o conjunto é de grande profundidade, o homem e o escritor foram profundamente compreendidos e amados. Teve mil vazes razão para reeditar e prefaciar esta obra fundamental. Obrigado ainda por ter pensado em me oferece r a leitura! Peço-lhe que acredite, senhor e caro colega, na minha simpatia muito respeitosa”. (tradução do Francês)
Louis Soler
____________________________
ARMINDO AUGUSTO DE CARVALHO- "ESCRITOS INCOMPLETOS"
É difícil escrever sobre Armindo Augusto de Carvalho, franciscano, escritor, pregador.
Nasceu no Franco, concelho de Mirandela, a 3 de Maio de 1918.
Inteligência invulgar, servida por uma erudição basta e indiferenciada que estruturou toda a sua actividade da escrita e da pregação. Ordenara-se Sacerdote a 27 de Julho de 1941. Os seus sermões deram-lhe um lugar destacado na Oratória do seu tempo.
Esta edição dos seus escritos conhecidos, peca por tardia. As suas publicações dispersaram-se pelas mais variadas publicações: Boletim Mensal, Diário de Notícias, Itinerarium onde publica "O Drama de Miguel Torga" em 1960,mais tarde editado em separata. Foi o primeiro escritor analisar, de modo sistemático, a obra do poeta “um escritor de ideias atormentadas, inconformistas.Ele vive intensamente o drama do actual pensamento europeu”, que Andrée Rocha considerou como “um dos poucos estudos sérios sobre a obra do poeta”.
Fez vários sermões sobre S. Francisco, S. António, sobre Santa Clara, e sobre os mais variados assuntos. Escreveu um artigo, incluído na Colectânea “Em louvor de Santa Clara” que organizou e devido a questões internas esteve para não ser publicado, só os concelhos do P.e Capela o demoveram e levaram finalmente a publicar. Aí floresce radiante a sua perspicácia poética e a sua alma franciscana. Vestiu o hábito franciscano em 7 de Setembro de 1934.
O mais surpreedente de toda esta Colectânea, ESCRITOS INCOMPLETOS, a parte que vai designada por Mística das Actividades, é a abordagem teórica e em profundidade da orientação Marxista., quando noventa e nove por cento do povo português nem o nome lhe sabia. Discorre sobre a política, o seu carácter, as verdades e as mentiras, os meios de repressão utilizados, para a sobrevivência de toda a doutrina social ligada e manipulada pelos detentores de poder. Aborda depois o Existencialismo, um estado de alma característico da Europa, desde Nietzsche e Kierkegaard.
Honra-nos esta memória, que emerge como reconhecimento a um dos espíritos mais brilhantes do seu tempo que, devido à inércia, alimentada por um sentido de fraternidade paradoxal, leva a lançar no ostracismo os espíritos mais lúcidos que foram maiores do que a sua época.
Os três artigos que fariam parte do livro CRISTIANISMO,não passaram de um desejo, pois nunca chegou a ser realizado,a par do artigo “A Enfermeira do Poeta Cego”, são dos mais aliciantes, pelo seu entusiasmo contido, pelo conteúdo, pelo tom um tanto oratório, barroco, ao estilo de António Vieira, aos peixes do Maranhão.
Comentando uma palavra de Sebatier que diz, lamentando que não houvesse ficado no Cântico do Irmão Sol uma estrofe sobre Santa Clara,responde o P. Armindo:"Essa estrofe se não esteve nos lábios de S. Francisco, esteve certamente no seu coração". O P. Armindo intuiu esta presença na poesia de Francisco.
Em 1960 publica “O Drama de Miguel Torga”, que considera “ um escritor de ideias e de ideias atormentadas, inconformistas. Ele vive intensamente o drama actua do actual pensamento europeu. Ele vive-o à nossa maneira portuguesa.” Isto foi escrito há 50 anos. Anos mais tarde, Miguel Torga despede-se “ dos seus semelhantes sem azedumes e sem ressentimentos, na paz de ter procurado vê-los e compreendê-los na exacta medida (…) De alguma coisa me hão-de valer as cicatrizes de defensor incansável do amor, da verdade e da liberdade, a tríade bendita que justifica a passagem de qualquer homem por este mundo” (Diário XVI, 190-200)
Frei Armindo Augusto de Carvalho veio a falecer no Porto a 17 de Janeiro de 1984. E num dia 17, mas de um Janeiro carrancudo de 1995, juntar-se-lhe-ia Miguel Torga a retomar as conversas interrompidas, no velho consultório do Largo da Portagem, agora, muito possivelmente, para abordar um tema tão caro as dois: FRANCISCO DE ASSIS, com Torga já a pegar na conversa a meio: “…o meu santo (…) Um Cristo do mundo à medida do mundo” (Diário XIII, 190).
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1 Em Louvor de Santa Clara, 1253-1953, Montariol, Braga
João M. Gonçalves
"Andrée Crabée Rocha agradece muito sensibilizada a oferta de "Miguel Torga,o Drama de existir",um dos poucos estudos sérios sobre a obra do poeta" (Crabée Rocha, esposa do poeta Miguel Torga)
_________________________________
Paris,19 de Junho de 1997
Dr. João Magalhães Gonçalves
Caro Senhor
“ Gostaria de agradecer, calorosamente, o envio do livro “Miguel Torga, o Drama de Existir”. (….) É evidente que eu não partilho de todas as análises de Frei Armindo Augusto - o sentido do sagrado em Torga parece-me de essência mais pagã do que cristã, ou melhor parece-me escapar a todas etiquetas da história das religiões - mas o conjunto é de grande profundidade, o homem e o escritor foram profundamente compreendidos e amados. Teve mil vazes razão para reeditar e prefaciar esta obra fundamental. Obrigado ainda por ter pensado em me oferece r a leitura! Peço-lhe que acredite, senhor e caro colega, na minha simpatia muito respeitosa”. (tradução do Francês)
Louis Soler
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ARMINDO AUGUSTO DE CARVALHO- "ESCRITOS INCOMPLETOS"
É difícil escrever sobre Armindo Augusto de Carvalho, franciscano, escritor, pregador.
Nasceu no Franco, concelho de Mirandela, a 3 de Maio de 1918.
Inteligência invulgar, servida por uma erudição basta e indiferenciada que estruturou toda a sua actividade da escrita e da pregação. Ordenara-se Sacerdote a 27 de Julho de 1941. Os seus sermões deram-lhe um lugar destacado na Oratória do seu tempo.
Esta edição dos seus escritos conhecidos, peca por tardia. As suas publicações dispersaram-se pelas mais variadas publicações: Boletim Mensal, Diário de Notícias, Itinerarium onde publica "O Drama de Miguel Torga" em 1960,mais tarde editado em separata. Foi o primeiro escritor analisar, de modo sistemático, a obra do poeta “um escritor de ideias atormentadas, inconformistas.Ele vive intensamente o drama do actual pensamento europeu”, que Andrée Rocha considerou como “um dos poucos estudos sérios sobre a obra do poeta”.
Fez vários sermões sobre S. Francisco, S. António, sobre Santa Clara, e sobre os mais variados assuntos. Escreveu um artigo, incluído na Colectânea “Em louvor de Santa Clara” que organizou e devido a questões internas esteve para não ser publicado, só os concelhos do P.e Capela o demoveram e levaram finalmente a publicar. Aí floresce radiante a sua perspicácia poética e a sua alma franciscana. Vestiu o hábito franciscano em 7 de Setembro de 1934.
O mais surpreedente de toda esta Colectânea, ESCRITOS INCOMPLETOS, a parte que vai designada por Mística das Actividades, é a abordagem teórica e em profundidade da orientação Marxista., quando noventa e nove por cento do povo português nem o nome lhe sabia. Discorre sobre a política, o seu carácter, as verdades e as mentiras, os meios de repressão utilizados, para a sobrevivência de toda a doutrina social ligada e manipulada pelos detentores de poder. Aborda depois o Existencialismo, um estado de alma característico da Europa, desde Nietzsche e Kierkegaard.
Honra-nos esta memória, que emerge como reconhecimento a um dos espíritos mais brilhantes do seu tempo que, devido à inércia, alimentada por um sentido de fraternidade paradoxal, leva a lançar no ostracismo os espíritos mais lúcidos que foram maiores do que a sua época.
Os três artigos que fariam parte do livro CRISTIANISMO,não passaram de um desejo, pois nunca chegou a ser realizado,a par do artigo “A Enfermeira do Poeta Cego”, são dos mais aliciantes, pelo seu entusiasmo contido, pelo conteúdo, pelo tom um tanto oratório, barroco, ao estilo de António Vieira, aos peixes do Maranhão.
Comentando uma palavra de Sebatier que diz, lamentando que não houvesse ficado no Cântico do Irmão Sol uma estrofe sobre Santa Clara,responde o P. Armindo:"Essa estrofe se não esteve nos lábios de S. Francisco, esteve certamente no seu coração". O P. Armindo intuiu esta presença na poesia de Francisco.
Em 1960 publica “O Drama de Miguel Torga”, que considera “ um escritor de ideias e de ideias atormentadas, inconformistas. Ele vive intensamente o drama actua do actual pensamento europeu. Ele vive-o à nossa maneira portuguesa.” Isto foi escrito há 50 anos. Anos mais tarde, Miguel Torga despede-se “ dos seus semelhantes sem azedumes e sem ressentimentos, na paz de ter procurado vê-los e compreendê-los na exacta medida (…) De alguma coisa me hão-de valer as cicatrizes de defensor incansável do amor, da verdade e da liberdade, a tríade bendita que justifica a passagem de qualquer homem por este mundo” (Diário XVI, 190-200)
Frei Armindo Augusto de Carvalho veio a falecer no Porto a 17 de Janeiro de 1984. E num dia 17, mas de um Janeiro carrancudo de 1995, juntar-se-lhe-ia Miguel Torga a retomar as conversas interrompidas, no velho consultório do Largo da Portagem, agora, muito possivelmente, para abordar um tema tão caro as dois: FRANCISCO DE ASSIS, com Torga já a pegar na conversa a meio: “…o meu santo (…) Um Cristo do mundo à medida do mundo” (Diário XIII, 190).
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1 Em Louvor de Santa Clara, 1253-1953, Montariol, Braga
João M. Gonçalves
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Armindo Augusto
À FLOR DO VERSO- 2009
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Caro Amigo
João Magalhães Gonçalves
Acabei de ler a sua obra, À flor do verso, escrito com a alma inteira. É o crente, é o franciscano, o poeta, que atravessam os poemas que, em rigor, são só um.
É o percurso de uma existência, recuperado na memória, feita de lugares, de familiares, de amigos, de desconhecidos. Só o poema pode fazer o levantamento de tal substância, a história da verdade do homem, já que a História não o faz.
O tratamento de tal substância tem sempre uma referência, o divino, os valores mais altos, a bússola do homem perdido nas suas limitações. E a bússola assenta na fé e no sonho, promissores de recompensas.
O seu livro acaba por ser a autobiografia de uma alma caminhante, iluminada num mundo de trevas onde os sentimentos humanos se confrontam com a voz divina. O franciscano desembaraça-se bem desse confronto apoiado na sua marca, a humildade.
Assim li a sua obra com prazer e admiração.
Um abraço do amigo
Joaquim Matos
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JOAQUIM José Teixeira de MATOS nasceu próximo da lota do peixe, a poucos metros do mar da bacia de Leixões, na rua Conde São Salvador, Matosinhos, em 21 de Janeiro de 1929. Presos à memória, ficaram-lhe os marginais da época, com os quais se identificou na infância e na puberdade. Também o primeiro alimento, o leite de uma poveira de carnes fartas, por falta de leite materno. O mais, da miséria e da ignorância, nem vale a pena falar. Abra-se apenas uma excepção, para uma frase que repetia para si, quando andava na Escola Primária da Confraria do Bom Jesus de Matosinhos: «Quando for grande, hei-de ser doutor para ajudar os pobres».
Começou a trabalhar aos 13 anos, num atelier de engenheiros, na Praça da Batalha, no Porto. Nessa altura a distância entre Matosinhos e Porto era muito grande. O eléctrico nunca mais chegava. O Porto teve o efeito de um exílio. A praia, com seus caícos, as suas bateiras e os seus botes, com algas à mistura, cabeças rachadas e pernas ensanguentadas, e os pés descalços com bolas de trapos na rua, foram substituídos por um outro mundo comandado por horas. Esta mudança provocou-lhe as lágrimas mais sentidas e fez nascer nele pela primeira vez a saudade. No atelier apenas atendia telefonemas. Quando o telefone não tocava, dedicava-se a desenhar e a aprender a escrever à máquina. Quando já manejava a máquina, escreveu um pequeno conto trágico, em que uma criança assiste com os olhos à morte da mãe, esmagada por uma grande pedra que rolara de um monte. Sem qualquer interesse literário, um dia deitaria no cesto dos papéis.
Foram alguns meses de atelier. Um dia, um primo de um dos engenheiros levou-o para o escritório de uma fundição na rua do Comércio, perpendicular ao rio Douro, na área da Alfândega, próximo do Palácio da Bolsa, que só muito mais tarde viria a conhecer e a ficar deslumbrado com o salão árabe. Foi necessário ter de ser «guia turístico» a uns amigos estrangeiros. No escritório, não tratou de papéis nem de telefonemas, como esperava, foi transformado em carrejão, levando peças de ferro fundido aos clientes, como tampas de saneamento, ficando a conhecer toda a cidade com toda a acção da gravidade sobre os ombros. Nem era profissão nem era futuro. Conseguiu, então, entrar como aprendiz de electricista numa fábrica de material eléctrico, Marcolino Afonso e Cª Lda, na rua de S. Miguel, 39, que outrora deveria ter sido de judeus, expulsos pelas trevas mentais e afectivas de D. Manuel II, área portuense bafejada pelo romance de Agustina Bessa-Luís, em O Bicho da Terra, e por Mário Cláudio, em A Quinta das Virtudes. O electricista foi-se fazendo, desde o escadote ao ombro e o carro de mão até chegar a chefe de fábrica. Dado que já tinha alguns estudos, e como nenhum empregado de escritório permaneceu por falta de honestidade, foi convidado pelos patrões, quase por imposição, para passar a escriturário, chegando a chefe de contabilidade. Nessa altura ganhava mil e duzentos escudos por mês. Acabou por deixar o cargo e o dinheiro para entrar no Seminário Baptista do Porto, onde esteve alguns anos e durante os quais fez os seus estudos liceais em simultâneo com estudos teológicos. Por volta de 1960 perdeu a fé e renunciou ao Seminário e à Religião, sem lhe ficar qualquer amargo de boca, pois guarda boas recordações das pessoas e os seus sentimentos continuam na linha da mensagem humanista cristã.
Entrou para a Universidade de Coimbra, Faculdade de Letras, no ano de 1956. Participou na campanha eleitoral de Arlindo Vicente, candidato à Presidência da República, e, após a desistência deste, na de Humberto Delgado. Foi fiscal na secção de voto de uma freguesia de Coimbra. Após as eleições teve de ir prestar contas à PIDE. O Professor Paiva Boléo resolveu ditar a sua sentença: «Esse aluno 30 anos que aqui ande nunca passará comigo». O Joaquim Matos matriculou-se então na Faculdade de Letras de Lisboa, onde começou o ano lectivo de 1959/60. Em Lisboa participou em todas as lutas académicas, nomeadamente na da crise estudantil de 62, que culminou com o assalto à cantina por um forte contingente de policia armados de metralhadoras, onde se encontravam cerca de 1.500 estudantes, que foram transportados para o campo de treinos da polícia de choque da Parede. Desses 1.500 estudantes a polícia fez uma selecção em função do cadastro de cada um, soltando todos excepto 76, que foram para o Forte de Caxias. Desses 76 fazia parte o Joaquim Matos. Esta «estadia» não foi penosa, comparando com as histórias que se sabiam de presos políticos. Alguns fizeram destes quatro dias e meio, sem torturas, uma medalha que ostentam em tudo quanto é sítio. Daí se recordam dois casos pitorescos. Depois de 48 horas sem dormir e sem comer, a primeira refeição servida sabia a um manjar dos deuses e a cama, 17 beliches para 27 pessoas, eram deliciosamente fofas. No dia seguinte, um pouco refeitos, a comida cheirava mal, não se comeu, e os beliches, com colchões moídos, pareciam ferros a fustigar as costas. O outro caso deu-se à saída do Forte. Era obrigatório a passagem por um salão, onde um a um era submetido a um interrogatório por um PIDE. Depois das declarações prestadas, o PIDE leu e no final da leitura perguntou se estava, certo para assinar. O Joaquim Matos discordou, dizendo que as respostas no seu conjunto davam a entender que tinha sido levado inconscientemente pelos outros. O PIDE e outro que se encontrava um pouco mais distante fuzilaram-no com o olhar. Perguntou então, o que escrevia, se queria acrescentar mais alguma coisa. «Quero sim, respondeu o Joaquim Matos, sei de onde venho, ao que ando e para onde vou». Feito este remate saiu em paz e sossego.
Nesse ano de 62 concluiu as cadeiras do seu Curso de Filologia Românica. Faltava-lhe o Acto de Licenciatura. Depois de ser expulso três vezes do Ensino Oficial e uma do Particular, Colégio Camões, na Av. Almirante Reis, em Lisboa por curriculum político, dedicou-se durante 1O anos a dar lições particulares, renunciando ao Acto de Licenciatura. E assim se manteve até que apodrecesse a cadeira que destituiu o Ditador. Em 69, com Marcelo Caetano, regressa ao Ensino Oficial, faz o seu Estágio, tira o Curso de Ciências Pedagógicas e ingressa na Faculdade de Letras do Porto para o tal Acto de Licenciatura, então substituído por um Seminário de um ano e uma Tese. Chega o 25 de Abril de 74 sem o ano terminado. Foi uma balda. Da parte de alunos e de professores. Um escândalo com injustiças pelo meio e que não dá para recordar por uma questão de pudor. Do que se passou ficou uma imagem muito desagradável de alguns professores ditos universitários, hoje cheios de reverência. Como se já não tivessem chegado as injustiças do Paiva Bolo, a ignorância da Piedade Pádua e a sua relação pidesca com os inspectores durante o Estágio para Professor Efectivo. Diga-se a este propósito que o Joaquim Matos, após o 25 de Abril, requereu ao Ministério um exame público perante os mesmos metodólogos e os mesmos inspectores, nunca tendo recebido qualquer resposta. Continua de pé esse desafio, à ignorância e à prepotência. Durante os dez anos que esteve fora do ensino leccionou particularmente literatura portuguesa, literatura francesa, latim e Filosofia. Esta, que não fazia parte do seu Curso, foi a que mais leccionou.
Em 1962 entrou para o Partido Comunista Português, como militante. A tarefa mais arriscada que desempenhou foi como intermediário entre o PC português e o PC francês. Dado que era diariamente vigiado pela polícia política, afastou-se de todos os encontros intelectuais de esquerda, tornou-se sócio do Leixões, criou à sua volta a ideia de um burguês fanático pelo futebol. Isto mesmo lhe fora aconselhado pelo seu controleiro. As 8 e 15 do dia 25 de Abril de 74, quando se dirigia para o seu Liceu, de Matosinhos, foi avisado que havia uma revolução. Sem certezas e disposto a enfrentar todas as consequências, chegado ao liceu fez logo um comício na sala dos professores e depois nas aulas, primeira e segunda, arrastando depois consigo os alunos e os professores para a suspensão das aulas. Foi numa quinta-feira. Na segunda-feira regressa ao Liceu, reúne professores, alunos e funcionários, parcelarmente, e é escolhido um Conselho Directivo democraticamente do qual é Presidente, por eleição. Posteriormente exerceu o cargo de Inspector da Zona Norte, atacando à esquerda e à direita, em defesa da Democracia e da Estabilidade, acabando com a política de terra queimada, em vários liceus e escolas. Esteve também destacado na Escola Normal do Magistério Primário, para onde entrou por concurso, e onde esteve a leccionar linguística durante dois anos. Daqui passou para o seu lugar de efectivo no Liceu Rodrigues Freitas, no Porto, onde continua como professor. Durante esse período participou num Seminário de Regionalização Escolar, no Penta Hotel, em Lisboa, com os maiores especialistas europeus, da OCDE. Também participou na formação de professores, no âmbito da Escola e o Meio.
Por volta de 1977, por dificuldades económicas, entra na RAR (Refinarias de Açúcar Reunidas), como encarregado da Formação Profissional, onde se manteve até 1995. Experiência gratificante a nível do patronato. Seu Empresário, Senhor João Macedo Silva, sabendo que o Joaquim Matos era comunista assumido, aceitou-o com todo o carinho e respeito, pedindo-lhe apenas que não fizesse política dentro da Empresa, pois fora dela era um homem livre para seguir as suas ideias. Nunca tratou o Joaquim Matos como um comunista, mas como um homem e um amigo. Ainda na década de 70, depois de alguns dissabores, o Joaquim Matos abandona a política. Deixa de acreditar nas ideologias, inquinadas nos seus sistemas. As ideologias e as religiões, genericamente, são boas, a sua utilização é que é má. Deixa de fazer as leituras partidárias para fazer a leitura dos homens, caso a caso, em busca do carácter e dos sentimentos humanos, estejam eles em que partidos estiverem. Só os bons poderão mudar o mundo. Nunca abdicou nem abdica, por sua natureza, do que há de humano no cristianismo ou na ideologia dita comunista, ou qualquer outra. O Homem é a razão de ser da sua vida.
Perdido o espaço político-social para a acção, Joaquim Matos procura não ficar de fora. Em 1987 lança o jornal literário Letras & Letras, a princípio mensal, depois quinzenal e, finalmente, depois de passar a revista, novamente mensal. Cresceu em qualidade e expansão. Nele participaram cerca de 700 colaboradores, nacionais e estrangeiros, universitários e não-universitários. Foi talvez a publicação mais independente que houve em Portugal, batendo-se, tanto quanto foi possível, contra capelinhas e manipulações partidárias. Foi a principal base do ensino da língua portuguesa e da literatura portuguesa do século XX, na maior parte das universidades estrangeiras. Foi a maior publicação de análise literária em língua portuguesa em todo o mundo. O maior número de artigos de análise literária no maior banco de dados do mundo, nos USA, pertence ao Letras & Letras. Entre outras actividades, ligadas ao Letras & Letras, deve-se salientar a instituição de dois grandes prémios de Ensaio, um sobre Miguel Torga, ganho por Teresa Rita Lopes, Professora da Universidade Nova Lisboa, outro sobre Agustina Bessa-Luís, ganho por Silvina Rodrigues Lopes, também Professora da Universidade Nova de Lisboa.
Joaquim Matos foi ainda actor e encenador de teatro amador durante 20 anos. Fez o primeiro ano de violino, com alta nota, no Conservatório de Música do Porto, de que desistiu por não haver saída económica. Hoje nada sabe de música.
Escreveu para vários jornais e revistas nacionais e estrangeiras. Destaque-se a sua colaboração no Letras & Letras com cerca de 150 textos. Fez prefácios para livros e textos para catálogos de pintura. Fez conferências. Participou em júris de prémios literários,
A sua produção poética tem os seguintes títulos: Ossadas Vivas (1970), Ondas Curtas e Longas (1971), Colhendo o Vento nos Frutos (1984), Palavra Indeferida (1989), Uma Noite com Maat (1996), A Idade do Tempo (1997), Gare Marítima (1998), Kaaba (1999), O Corpo da Memória (2000) e O que Apetece Dizer-Te (2004). Publicou o livro de ensaios Mário Cláudio: Ficção e Ideário (Porto, Caixotim, 2004).
Ainda escreveu uma peça de teatro, Na Linha do Mar, que nunca passou a livro por falta de editora, pois é o género literário que bate a lírica em termos de prejuízo. Sobre ela fica, no entanto, o parecer de Óscar Lopes: «Não sou perito de teatro sob o ponto de vista de execução cénica, e por isso não me poderei pronunciar completamente sobre a validade propriamente teatral deste texto, onde os conflitos sociais se não individualizam, mas onde há grande movimento espectacular de conjuntos humanos. / Literariamente, colhe ao vivo a linguagem rude das "conserveiras", de um modo que há uns três anos pareceria chocante, mas que rapidamente o público se acostumou. As falas dos grupos desenham bem o choque social e ideológico.» Data de 1977. No ano 2000, fez a adaptação em prosa da peça de teatro de Camilo Castelo Branco O Morgado de Fafe em Lisboa (Alenquer, Orabem Editora).
De todas as suas actividades, a mais gratificante foi a de professor do ensino secundário. Foi a maior paixão da sua vida. Amou os alunos mais do que a si próprio e deu-lhes tudo o que estava ao seu alcance, para que fossem homens, isto é, que pensassem pela sua cabeça, que amassem os outros mais do que a si próprios, que se preocupassem mais com o carácter do que com os conhecimentos, que concorressem consigo próprios e não com os outros, que lutassem contra o machismo hereditário, que lessem, lessem, lessem, porque a leitura era a medida do homem. 36 anos de utopia! Já perto da reforma, sente-se cada vez mais frustrado. A Escola, como lugar privilegiado da educação e do ensino, está quase irremediavelmente perdida. Infelizmente não é pessimismo, é o sabor experimentado no dia a dia. Não há um só culpado. São os professores, são os alunos, são os pais e têm sido os ministérios responsáveis, sem excepção de partidos. Gastam-se fortunas e tudo continua na mesma ou pior. E profundamente doloroso dizer que era preferível a «escola» alienante, à base da memória do «Dinossauro Excelentíssimo», do que o que se está a passar. Mas o pior de tudo isto é que não se vislumbra qualquer saída. O Poder, mundial, não está interessado no desenvolvimento dos povos. Está interessado num desenvolvimento específico que sirva fins financeiros e económicos, e não no desenvolvimento do homem integral, esquecendo-se que a factura que têm de pagar por isso será demasiadamente elevada e que já está à vista. Esta a última esperança e a última decepção de Joaquim Matos. Que, no entanto, ainda acredita num mundo melhor, sem saber como nem quando, onde todos caibam, cada um no seu lugar, num braço forte contra todas as ameaças de que a humanidade está cercada.
Caro Amigo
João Magalhães Gonçalves
Acabei de ler a sua obra, À flor do verso, escrito com a alma inteira. É o crente, é o franciscano, o poeta, que atravessam os poemas que, em rigor, são só um.
É o percurso de uma existência, recuperado na memória, feita de lugares, de familiares, de amigos, de desconhecidos. Só o poema pode fazer o levantamento de tal substância, a história da verdade do homem, já que a História não o faz.
O tratamento de tal substância tem sempre uma referência, o divino, os valores mais altos, a bússola do homem perdido nas suas limitações. E a bússola assenta na fé e no sonho, promissores de recompensas.
O seu livro acaba por ser a autobiografia de uma alma caminhante, iluminada num mundo de trevas onde os sentimentos humanos se confrontam com a voz divina. O franciscano desembaraça-se bem desse confronto apoiado na sua marca, a humildade.
Assim li a sua obra com prazer e admiração.
Um abraço do amigo
Joaquim Matos
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JOAQUIM José Teixeira de MATOS nasceu próximo da lota do peixe, a poucos metros do mar da bacia de Leixões, na rua Conde São Salvador, Matosinhos, em 21 de Janeiro de 1929. Presos à memória, ficaram-lhe os marginais da época, com os quais se identificou na infância e na puberdade. Também o primeiro alimento, o leite de uma poveira de carnes fartas, por falta de leite materno. O mais, da miséria e da ignorância, nem vale a pena falar. Abra-se apenas uma excepção, para uma frase que repetia para si, quando andava na Escola Primária da Confraria do Bom Jesus de Matosinhos: «Quando for grande, hei-de ser doutor para ajudar os pobres».
Começou a trabalhar aos 13 anos, num atelier de engenheiros, na Praça da Batalha, no Porto. Nessa altura a distância entre Matosinhos e Porto era muito grande. O eléctrico nunca mais chegava. O Porto teve o efeito de um exílio. A praia, com seus caícos, as suas bateiras e os seus botes, com algas à mistura, cabeças rachadas e pernas ensanguentadas, e os pés descalços com bolas de trapos na rua, foram substituídos por um outro mundo comandado por horas. Esta mudança provocou-lhe as lágrimas mais sentidas e fez nascer nele pela primeira vez a saudade. No atelier apenas atendia telefonemas. Quando o telefone não tocava, dedicava-se a desenhar e a aprender a escrever à máquina. Quando já manejava a máquina, escreveu um pequeno conto trágico, em que uma criança assiste com os olhos à morte da mãe, esmagada por uma grande pedra que rolara de um monte. Sem qualquer interesse literário, um dia deitaria no cesto dos papéis.
Foram alguns meses de atelier. Um dia, um primo de um dos engenheiros levou-o para o escritório de uma fundição na rua do Comércio, perpendicular ao rio Douro, na área da Alfândega, próximo do Palácio da Bolsa, que só muito mais tarde viria a conhecer e a ficar deslumbrado com o salão árabe. Foi necessário ter de ser «guia turístico» a uns amigos estrangeiros. No escritório, não tratou de papéis nem de telefonemas, como esperava, foi transformado em carrejão, levando peças de ferro fundido aos clientes, como tampas de saneamento, ficando a conhecer toda a cidade com toda a acção da gravidade sobre os ombros. Nem era profissão nem era futuro. Conseguiu, então, entrar como aprendiz de electricista numa fábrica de material eléctrico, Marcolino Afonso e Cª Lda, na rua de S. Miguel, 39, que outrora deveria ter sido de judeus, expulsos pelas trevas mentais e afectivas de D. Manuel II, área portuense bafejada pelo romance de Agustina Bessa-Luís, em O Bicho da Terra, e por Mário Cláudio, em A Quinta das Virtudes. O electricista foi-se fazendo, desde o escadote ao ombro e o carro de mão até chegar a chefe de fábrica. Dado que já tinha alguns estudos, e como nenhum empregado de escritório permaneceu por falta de honestidade, foi convidado pelos patrões, quase por imposição, para passar a escriturário, chegando a chefe de contabilidade. Nessa altura ganhava mil e duzentos escudos por mês. Acabou por deixar o cargo e o dinheiro para entrar no Seminário Baptista do Porto, onde esteve alguns anos e durante os quais fez os seus estudos liceais em simultâneo com estudos teológicos. Por volta de 1960 perdeu a fé e renunciou ao Seminário e à Religião, sem lhe ficar qualquer amargo de boca, pois guarda boas recordações das pessoas e os seus sentimentos continuam na linha da mensagem humanista cristã.
Entrou para a Universidade de Coimbra, Faculdade de Letras, no ano de 1956. Participou na campanha eleitoral de Arlindo Vicente, candidato à Presidência da República, e, após a desistência deste, na de Humberto Delgado. Foi fiscal na secção de voto de uma freguesia de Coimbra. Após as eleições teve de ir prestar contas à PIDE. O Professor Paiva Boléo resolveu ditar a sua sentença: «Esse aluno 30 anos que aqui ande nunca passará comigo». O Joaquim Matos matriculou-se então na Faculdade de Letras de Lisboa, onde começou o ano lectivo de 1959/60. Em Lisboa participou em todas as lutas académicas, nomeadamente na da crise estudantil de 62, que culminou com o assalto à cantina por um forte contingente de policia armados de metralhadoras, onde se encontravam cerca de 1.500 estudantes, que foram transportados para o campo de treinos da polícia de choque da Parede. Desses 1.500 estudantes a polícia fez uma selecção em função do cadastro de cada um, soltando todos excepto 76, que foram para o Forte de Caxias. Desses 76 fazia parte o Joaquim Matos. Esta «estadia» não foi penosa, comparando com as histórias que se sabiam de presos políticos. Alguns fizeram destes quatro dias e meio, sem torturas, uma medalha que ostentam em tudo quanto é sítio. Daí se recordam dois casos pitorescos. Depois de 48 horas sem dormir e sem comer, a primeira refeição servida sabia a um manjar dos deuses e a cama, 17 beliches para 27 pessoas, eram deliciosamente fofas. No dia seguinte, um pouco refeitos, a comida cheirava mal, não se comeu, e os beliches, com colchões moídos, pareciam ferros a fustigar as costas. O outro caso deu-se à saída do Forte. Era obrigatório a passagem por um salão, onde um a um era submetido a um interrogatório por um PIDE. Depois das declarações prestadas, o PIDE leu e no final da leitura perguntou se estava, certo para assinar. O Joaquim Matos discordou, dizendo que as respostas no seu conjunto davam a entender que tinha sido levado inconscientemente pelos outros. O PIDE e outro que se encontrava um pouco mais distante fuzilaram-no com o olhar. Perguntou então, o que escrevia, se queria acrescentar mais alguma coisa. «Quero sim, respondeu o Joaquim Matos, sei de onde venho, ao que ando e para onde vou». Feito este remate saiu em paz e sossego.
Nesse ano de 62 concluiu as cadeiras do seu Curso de Filologia Românica. Faltava-lhe o Acto de Licenciatura. Depois de ser expulso três vezes do Ensino Oficial e uma do Particular, Colégio Camões, na Av. Almirante Reis, em Lisboa por curriculum político, dedicou-se durante 1O anos a dar lições particulares, renunciando ao Acto de Licenciatura. E assim se manteve até que apodrecesse a cadeira que destituiu o Ditador. Em 69, com Marcelo Caetano, regressa ao Ensino Oficial, faz o seu Estágio, tira o Curso de Ciências Pedagógicas e ingressa na Faculdade de Letras do Porto para o tal Acto de Licenciatura, então substituído por um Seminário de um ano e uma Tese. Chega o 25 de Abril de 74 sem o ano terminado. Foi uma balda. Da parte de alunos e de professores. Um escândalo com injustiças pelo meio e que não dá para recordar por uma questão de pudor. Do que se passou ficou uma imagem muito desagradável de alguns professores ditos universitários, hoje cheios de reverência. Como se já não tivessem chegado as injustiças do Paiva Bolo, a ignorância da Piedade Pádua e a sua relação pidesca com os inspectores durante o Estágio para Professor Efectivo. Diga-se a este propósito que o Joaquim Matos, após o 25 de Abril, requereu ao Ministério um exame público perante os mesmos metodólogos e os mesmos inspectores, nunca tendo recebido qualquer resposta. Continua de pé esse desafio, à ignorância e à prepotência. Durante os dez anos que esteve fora do ensino leccionou particularmente literatura portuguesa, literatura francesa, latim e Filosofia. Esta, que não fazia parte do seu Curso, foi a que mais leccionou.
Em 1962 entrou para o Partido Comunista Português, como militante. A tarefa mais arriscada que desempenhou foi como intermediário entre o PC português e o PC francês. Dado que era diariamente vigiado pela polícia política, afastou-se de todos os encontros intelectuais de esquerda, tornou-se sócio do Leixões, criou à sua volta a ideia de um burguês fanático pelo futebol. Isto mesmo lhe fora aconselhado pelo seu controleiro. As 8 e 15 do dia 25 de Abril de 74, quando se dirigia para o seu Liceu, de Matosinhos, foi avisado que havia uma revolução. Sem certezas e disposto a enfrentar todas as consequências, chegado ao liceu fez logo um comício na sala dos professores e depois nas aulas, primeira e segunda, arrastando depois consigo os alunos e os professores para a suspensão das aulas. Foi numa quinta-feira. Na segunda-feira regressa ao Liceu, reúne professores, alunos e funcionários, parcelarmente, e é escolhido um Conselho Directivo democraticamente do qual é Presidente, por eleição. Posteriormente exerceu o cargo de Inspector da Zona Norte, atacando à esquerda e à direita, em defesa da Democracia e da Estabilidade, acabando com a política de terra queimada, em vários liceus e escolas. Esteve também destacado na Escola Normal do Magistério Primário, para onde entrou por concurso, e onde esteve a leccionar linguística durante dois anos. Daqui passou para o seu lugar de efectivo no Liceu Rodrigues Freitas, no Porto, onde continua como professor. Durante esse período participou num Seminário de Regionalização Escolar, no Penta Hotel, em Lisboa, com os maiores especialistas europeus, da OCDE. Também participou na formação de professores, no âmbito da Escola e o Meio.
Por volta de 1977, por dificuldades económicas, entra na RAR (Refinarias de Açúcar Reunidas), como encarregado da Formação Profissional, onde se manteve até 1995. Experiência gratificante a nível do patronato. Seu Empresário, Senhor João Macedo Silva, sabendo que o Joaquim Matos era comunista assumido, aceitou-o com todo o carinho e respeito, pedindo-lhe apenas que não fizesse política dentro da Empresa, pois fora dela era um homem livre para seguir as suas ideias. Nunca tratou o Joaquim Matos como um comunista, mas como um homem e um amigo. Ainda na década de 70, depois de alguns dissabores, o Joaquim Matos abandona a política. Deixa de acreditar nas ideologias, inquinadas nos seus sistemas. As ideologias e as religiões, genericamente, são boas, a sua utilização é que é má. Deixa de fazer as leituras partidárias para fazer a leitura dos homens, caso a caso, em busca do carácter e dos sentimentos humanos, estejam eles em que partidos estiverem. Só os bons poderão mudar o mundo. Nunca abdicou nem abdica, por sua natureza, do que há de humano no cristianismo ou na ideologia dita comunista, ou qualquer outra. O Homem é a razão de ser da sua vida.
Perdido o espaço político-social para a acção, Joaquim Matos procura não ficar de fora. Em 1987 lança o jornal literário Letras & Letras, a princípio mensal, depois quinzenal e, finalmente, depois de passar a revista, novamente mensal. Cresceu em qualidade e expansão. Nele participaram cerca de 700 colaboradores, nacionais e estrangeiros, universitários e não-universitários. Foi talvez a publicação mais independente que houve em Portugal, batendo-se, tanto quanto foi possível, contra capelinhas e manipulações partidárias. Foi a principal base do ensino da língua portuguesa e da literatura portuguesa do século XX, na maior parte das universidades estrangeiras. Foi a maior publicação de análise literária em língua portuguesa em todo o mundo. O maior número de artigos de análise literária no maior banco de dados do mundo, nos USA, pertence ao Letras & Letras. Entre outras actividades, ligadas ao Letras & Letras, deve-se salientar a instituição de dois grandes prémios de Ensaio, um sobre Miguel Torga, ganho por Teresa Rita Lopes, Professora da Universidade Nova Lisboa, outro sobre Agustina Bessa-Luís, ganho por Silvina Rodrigues Lopes, também Professora da Universidade Nova de Lisboa.
Joaquim Matos foi ainda actor e encenador de teatro amador durante 20 anos. Fez o primeiro ano de violino, com alta nota, no Conservatório de Música do Porto, de que desistiu por não haver saída económica. Hoje nada sabe de música.
Escreveu para vários jornais e revistas nacionais e estrangeiras. Destaque-se a sua colaboração no Letras & Letras com cerca de 150 textos. Fez prefácios para livros e textos para catálogos de pintura. Fez conferências. Participou em júris de prémios literários,
A sua produção poética tem os seguintes títulos: Ossadas Vivas (1970), Ondas Curtas e Longas (1971), Colhendo o Vento nos Frutos (1984), Palavra Indeferida (1989), Uma Noite com Maat (1996), A Idade do Tempo (1997), Gare Marítima (1998), Kaaba (1999), O Corpo da Memória (2000) e O que Apetece Dizer-Te (2004). Publicou o livro de ensaios Mário Cláudio: Ficção e Ideário (Porto, Caixotim, 2004).
Ainda escreveu uma peça de teatro, Na Linha do Mar, que nunca passou a livro por falta de editora, pois é o género literário que bate a lírica em termos de prejuízo. Sobre ela fica, no entanto, o parecer de Óscar Lopes: «Não sou perito de teatro sob o ponto de vista de execução cénica, e por isso não me poderei pronunciar completamente sobre a validade propriamente teatral deste texto, onde os conflitos sociais se não individualizam, mas onde há grande movimento espectacular de conjuntos humanos. / Literariamente, colhe ao vivo a linguagem rude das "conserveiras", de um modo que há uns três anos pareceria chocante, mas que rapidamente o público se acostumou. As falas dos grupos desenham bem o choque social e ideológico.» Data de 1977. No ano 2000, fez a adaptação em prosa da peça de teatro de Camilo Castelo Branco O Morgado de Fafe em Lisboa (Alenquer, Orabem Editora).
De todas as suas actividades, a mais gratificante foi a de professor do ensino secundário. Foi a maior paixão da sua vida. Amou os alunos mais do que a si próprio e deu-lhes tudo o que estava ao seu alcance, para que fossem homens, isto é, que pensassem pela sua cabeça, que amassem os outros mais do que a si próprios, que se preocupassem mais com o carácter do que com os conhecimentos, que concorressem consigo próprios e não com os outros, que lutassem contra o machismo hereditário, que lessem, lessem, lessem, porque a leitura era a medida do homem. 36 anos de utopia! Já perto da reforma, sente-se cada vez mais frustrado. A Escola, como lugar privilegiado da educação e do ensino, está quase irremediavelmente perdida. Infelizmente não é pessimismo, é o sabor experimentado no dia a dia. Não há um só culpado. São os professores, são os alunos, são os pais e têm sido os ministérios responsáveis, sem excepção de partidos. Gastam-se fortunas e tudo continua na mesma ou pior. E profundamente doloroso dizer que era preferível a «escola» alienante, à base da memória do «Dinossauro Excelentíssimo», do que o que se está a passar. Mas o pior de tudo isto é que não se vislumbra qualquer saída. O Poder, mundial, não está interessado no desenvolvimento dos povos. Está interessado num desenvolvimento específico que sirva fins financeiros e económicos, e não no desenvolvimento do homem integral, esquecendo-se que a factura que têm de pagar por isso será demasiadamente elevada e que já está à vista. Esta a última esperança e a última decepção de Joaquim Matos. Que, no entanto, ainda acredita num mundo melhor, sem saber como nem quando, onde todos caibam, cada um no seu lugar, num braço forte contra todas as ameaças de que a humanidade está cercada.
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À flor do verso-2009
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
MUIGUEL TORGA
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![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1k6Z-askQ9nSHXtBUeGPRiRiA9AO4VdV1fqGWvECgE3W56WVPwZe97Tx_n4LmAZx58gmigttyZwtCoBibgmtybwkR6c492mOOr_dNZYe_5SA9lsd53cxQ9Du-hYh2jQjH2C6u70p0j2ft/s400/M.Torgadigitalizar0001.jpg)
Miguel Torga (pseudónimo de Adolfo Correia Rocha) nasceu em S. Martinho de Anta (12.08.907) e morreu em Coimbra (17.01.995). É autor de uma obra extensa e diversificada, compreendendo poesia, diário, ficção (contos e romances), teatro, ensaios e textos doutrinários.
Em 1934, ao publicar o ensaio intitulado A terceira voz, o médico Adolfo Rocha adopta expressamente o nome de Miguel Torga. Associando o fitónimo “torga” – evocativo de resistência e de pertinaz ligação à terra, propriedades de um pequeno arbusto do mesmo nome- a "Miguel"- nome de escritores ibéricos (Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno), de artista visionário e genial (Miguel Ângelo) e de Arcanjo com forte motivação semântica (“Quem como Deus”), o poeta (então, com apenas 27 anos) escolhe um programa ético e estético centrado no confessionalismo e na busca de autenticidade.
A dominante autobiográfica é, de resto, uma marca geracional. Não pode esquecer-se que Torga viria a participar, por pouco tempo, no movimento da Presença, vindo a demarcar-se dele, não tanto por força de divergências substantivas mas em virtude de um fortíssimo impulso individualista.
A essa luz de obstinada independência ganha também importância a forte relação que o autor mantem com a terra natal. É sabido, por exemplo, que a Agarez d' A Criação do Mundo (conjunto de seis livros autobiográficos, publicados entre 1937 e 1981) constitui o sucedâneo da sua S. Martinho de Anta, afirmando-se como contraponto apaziguante das muitas peregrinações empreendidas, por escolha livre ou por força das circunstâncias. A partir de certa altura, a dialéctica entre aproximação e distância fixa-se essencialmente em torno de Coimbra (a “Agarez alfabeta”) e das fragas maternais de Trás-os-Montes, onde o poeta volta ciclicamente, sobretudo por ocasião do Natal. Nessa medida, bem pode dizer-se que o regresso constitui, ao mesmo tempo, um prémio e uma revalidação do preito à terra.
Essa dialéctica vivencial aplica-se também ao próprio mundo ficcional criado pelo autor. Um exemplo disto mesmo encontra-se no conto intitulado “A Paga (Contos da Montanha) quando Matilde, “desgraçada” por um Don Juan rústico (o Arlindo), se vê vingada pelos irmãos (Cândido e Albino) regressados do Brasil para, em dia de romaria a S. Domingos, restabelecerem a justiça da terra. Punido na sua capacidade fecundante, o Arlindo constitui o exemplo do varão excessivo, que atraiçoa as leis morais necessárias ao bom funcionamento da comunidade. Por via disso mesmo, o castigo teria de lhe ser imposto por filhos da mesma terra, que a ela voltaram com esse fim, em sinal de pertença eterna.
Esta linha de fidelidade aos espaços maternos e de busca íntima alcança outro tipo de expressão na escrita lírica.
Iniciado em 1928 com o livro Ansiedade (entretanto renegado), o lirismo de Torga ganha corpo através de um conjunto de livros autónomos e ainda por força de um vasto conjunto de poemas espalhados ao longo dos 16 volumes do Diário, publicados entre 1941 e 1993.
Nele comparece a ideia de uma Natureza matricial contraposta às hipocrisias sociais (no que lembra muito o bucolismo de Sá de Miranda); Nele avulta, por outro lado, a noção de que a escrita literária (e a inspiração lírica, em particular) excede o plano da consciência e da programação racional para se inscreverem, de facto, no âmbito da transcendência órfica. De facto, mais do que imitar a realidade, a poesia de Torga reinventa-a sem cessar, tal como Orfeu conseguia modificar a paisagem envolvente através da melodia do seu canto. Para além de tudo, e ainda à semelhança do pastor da Trácia, o objectivo último do poeta é sempre o de resgatar a amada Eurídice (que tem, neste caso, o nome de Pátria), arrancando-a ao negrume do Hades e devolvendo-a à luz e à esperança do futuro.
Na constância do seu projecto cívico e artístico, Miguel Torga revela-se um caso raro de perseverança na ligação à terra em que nasceu: a Trás-os-Montes e a Portugal, por inteiro. Historicamente situado numa encruzilhada onde Tradição e Modernidade se afrontam, o escritor aparece sistematicamente do lado do progresso, tanto em termos estéticos como em termos cívicos. Nessa medida o encontramos claramente alinhado pelo Modernismo, no que a palavra pressupõe de representação livre e criativa de ideias e emoções. Do mesmo modo que o encontramos apostado no combate por uma democracia respeitadora da história e construtora de um futuro responsável.
Mas é justamente a esse nível que se pode assinalar a principal “contradição” do seu ideário. É que, contra as expectativas de alguns, Miguel Torga, que havia contestado vigorosa e repetidamente a “Ordem” do Estado Novo, viria a revelar-se um crítico do Portugal democrático: terciarizado, amnésico, consumista e europeu. Nesse registo de resistência (tantas vezes glosado ao longo do Diário) Torga acaba assim por se integrar definitivamente na linhagem dos poetas e pensadores portugueses de Melancolia, onde se contam nomes como Sá de Miranda, Camões, Oliveira Martins, Antero, Teixeira de Pascoais ou Fernando Pessoa.
O próprio facto de todos eles terem sido, de algum modo, derrotados pela história contribuiu para os converter em poderosa referência contrastiva. Não admira, por isso, que na maioria dos casos evocados, a influência estética tenda a confundir-se com os efeitos do magistério cívico. No que diz directamente respeito a Miguel Torga, é sintomático que, passada apenas uma década sobre a sua morte, ele se tenha já tornado num dos escritores portugueses de mais evidente consumo público, quer através de uma presença significativa no cânone escolar (onde entrou, pela primeira vez, em 1976) quer através de outro tipo de consagração, como seja o patronato de um numeroso conjunto de escolas (de diferentes níveis de ensino) e de bibliotecas. Do mesmo modo, a sua obra tem vindo a ser traduzida para a generalidade dos idiomas europeus e ainda para chinês e japonês. Assinale-se, por fim, o facto bem ilustrativo de Miguel Torga ser, talvez, o escritor mais citado por parte dos titulares de cargos públicos, parlamentares e políticos portugueses, em geral.
_________
Texto de José Augusto Cardoso Bernardes
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1k6Z-askQ9nSHXtBUeGPRiRiA9AO4VdV1fqGWvECgE3W56WVPwZe97Tx_n4LmAZx58gmigttyZwtCoBibgmtybwkR6c492mOOr_dNZYe_5SA9lsd53cxQ9Du-hYh2jQjH2C6u70p0j2ft/s400/M.Torgadigitalizar0001.jpg)
Miguel Torga (pseudónimo de Adolfo Correia Rocha) nasceu em S. Martinho de Anta (12.08.907) e morreu em Coimbra (17.01.995). É autor de uma obra extensa e diversificada, compreendendo poesia, diário, ficção (contos e romances), teatro, ensaios e textos doutrinários.
Em 1934, ao publicar o ensaio intitulado A terceira voz, o médico Adolfo Rocha adopta expressamente o nome de Miguel Torga. Associando o fitónimo “torga” – evocativo de resistência e de pertinaz ligação à terra, propriedades de um pequeno arbusto do mesmo nome- a "Miguel"- nome de escritores ibéricos (Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno), de artista visionário e genial (Miguel Ângelo) e de Arcanjo com forte motivação semântica (“Quem como Deus”), o poeta (então, com apenas 27 anos) escolhe um programa ético e estético centrado no confessionalismo e na busca de autenticidade.
A dominante autobiográfica é, de resto, uma marca geracional. Não pode esquecer-se que Torga viria a participar, por pouco tempo, no movimento da Presença, vindo a demarcar-se dele, não tanto por força de divergências substantivas mas em virtude de um fortíssimo impulso individualista.
A essa luz de obstinada independência ganha também importância a forte relação que o autor mantem com a terra natal. É sabido, por exemplo, que a Agarez d' A Criação do Mundo (conjunto de seis livros autobiográficos, publicados entre 1937 e 1981) constitui o sucedâneo da sua S. Martinho de Anta, afirmando-se como contraponto apaziguante das muitas peregrinações empreendidas, por escolha livre ou por força das circunstâncias. A partir de certa altura, a dialéctica entre aproximação e distância fixa-se essencialmente em torno de Coimbra (a “Agarez alfabeta”) e das fragas maternais de Trás-os-Montes, onde o poeta volta ciclicamente, sobretudo por ocasião do Natal. Nessa medida, bem pode dizer-se que o regresso constitui, ao mesmo tempo, um prémio e uma revalidação do preito à terra.
Essa dialéctica vivencial aplica-se também ao próprio mundo ficcional criado pelo autor. Um exemplo disto mesmo encontra-se no conto intitulado “A Paga (Contos da Montanha) quando Matilde, “desgraçada” por um Don Juan rústico (o Arlindo), se vê vingada pelos irmãos (Cândido e Albino) regressados do Brasil para, em dia de romaria a S. Domingos, restabelecerem a justiça da terra. Punido na sua capacidade fecundante, o Arlindo constitui o exemplo do varão excessivo, que atraiçoa as leis morais necessárias ao bom funcionamento da comunidade. Por via disso mesmo, o castigo teria de lhe ser imposto por filhos da mesma terra, que a ela voltaram com esse fim, em sinal de pertença eterna.
Esta linha de fidelidade aos espaços maternos e de busca íntima alcança outro tipo de expressão na escrita lírica.
Iniciado em 1928 com o livro Ansiedade (entretanto renegado), o lirismo de Torga ganha corpo através de um conjunto de livros autónomos e ainda por força de um vasto conjunto de poemas espalhados ao longo dos 16 volumes do Diário, publicados entre 1941 e 1993.
Nele comparece a ideia de uma Natureza matricial contraposta às hipocrisias sociais (no que lembra muito o bucolismo de Sá de Miranda); Nele avulta, por outro lado, a noção de que a escrita literária (e a inspiração lírica, em particular) excede o plano da consciência e da programação racional para se inscreverem, de facto, no âmbito da transcendência órfica. De facto, mais do que imitar a realidade, a poesia de Torga reinventa-a sem cessar, tal como Orfeu conseguia modificar a paisagem envolvente através da melodia do seu canto. Para além de tudo, e ainda à semelhança do pastor da Trácia, o objectivo último do poeta é sempre o de resgatar a amada Eurídice (que tem, neste caso, o nome de Pátria), arrancando-a ao negrume do Hades e devolvendo-a à luz e à esperança do futuro.
Na constância do seu projecto cívico e artístico, Miguel Torga revela-se um caso raro de perseverança na ligação à terra em que nasceu: a Trás-os-Montes e a Portugal, por inteiro. Historicamente situado numa encruzilhada onde Tradição e Modernidade se afrontam, o escritor aparece sistematicamente do lado do progresso, tanto em termos estéticos como em termos cívicos. Nessa medida o encontramos claramente alinhado pelo Modernismo, no que a palavra pressupõe de representação livre e criativa de ideias e emoções. Do mesmo modo que o encontramos apostado no combate por uma democracia respeitadora da história e construtora de um futuro responsável.
Mas é justamente a esse nível que se pode assinalar a principal “contradição” do seu ideário. É que, contra as expectativas de alguns, Miguel Torga, que havia contestado vigorosa e repetidamente a “Ordem” do Estado Novo, viria a revelar-se um crítico do Portugal democrático: terciarizado, amnésico, consumista e europeu. Nesse registo de resistência (tantas vezes glosado ao longo do Diário) Torga acaba assim por se integrar definitivamente na linhagem dos poetas e pensadores portugueses de Melancolia, onde se contam nomes como Sá de Miranda, Camões, Oliveira Martins, Antero, Teixeira de Pascoais ou Fernando Pessoa.
O próprio facto de todos eles terem sido, de algum modo, derrotados pela história contribuiu para os converter em poderosa referência contrastiva. Não admira, por isso, que na maioria dos casos evocados, a influência estética tenda a confundir-se com os efeitos do magistério cívico. No que diz directamente respeito a Miguel Torga, é sintomático que, passada apenas uma década sobre a sua morte, ele se tenha já tornado num dos escritores portugueses de mais evidente consumo público, quer através de uma presença significativa no cânone escolar (onde entrou, pela primeira vez, em 1976) quer através de outro tipo de consagração, como seja o patronato de um numeroso conjunto de escolas (de diferentes níveis de ensino) e de bibliotecas. Do mesmo modo, a sua obra tem vindo a ser traduzida para a generalidade dos idiomas europeus e ainda para chinês e japonês. Assinale-se, por fim, o facto bem ilustrativo de Miguel Torga ser, talvez, o escritor mais citado por parte dos titulares de cargos públicos, parlamentares e políticos portugueses, em geral.
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Texto de José Augusto Cardoso Bernardes
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Miguel Torga
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
DESCANSO
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![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHv-oB7IfVHjQU6sE5jiitQkdbb_vHaQgnCT9g_dGFe-FxFP6k_HQO2si3EPEwRLQQ0nhZIsGlF6OFn6dqhGPU8nLcbVsBlADyPbJ6sDYCCEHaeYEO150urCXGqhYYlDY5inIdl40Jo6M4/s400/HPIM3677jo.jpg)
Paris,19 de Junho de 1997
Dr. João Magalhães Gonçalves
Caro Senhor
“ Gostaria de agradecer, calorosamente, o envio do livro “Miguel Torga, o Drama de Existir”. (….) É evidente que eu não partilho de todas as análises de Frei Armindo Augusto - o sentido do sagrado em Torga parece-me de essência mais pagã do que cristã, ou melhor parece-me escapar a todas etiquetas da história das religiões - mas o conjunto é de grande profundidade, o homem e o escritor foram profundamente compreendidos e amados. Teve mil vazes razão para reeditar e prefaciar esta obra fundamental. Obrigado ainda por ter pensado em me oferece r a leitura! Peço-lhe que acredite, senhor e caro colega, na minha simpatia muito respeitosa”. (tradução do Francês)
Louis Soler
A UMA VELHA MAUSER
Adormecida a deixei
entre os remorsos e os destroços
da memória enjeitada
da liberdade,
transfigurada em arado
que não conheceu terra
para desbravar.
Gatilho ao peito
e 5 balas sem norte
que na vida não se acerta
por maior que seja a sorte
lá ficou de cão ao lado
a mira descompensada
num adeus desesperado
a descontar
às vitórias,
por ganhar.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHv-oB7IfVHjQU6sE5jiitQkdbb_vHaQgnCT9g_dGFe-FxFP6k_HQO2si3EPEwRLQQ0nhZIsGlF6OFn6dqhGPU8nLcbVsBlADyPbJ6sDYCCEHaeYEO150urCXGqhYYlDY5inIdl40Jo6M4/s400/HPIM3677jo.jpg)
Paris,19 de Junho de 1997
Dr. João Magalhães Gonçalves
Caro Senhor
“ Gostaria de agradecer, calorosamente, o envio do livro “Miguel Torga, o Drama de Existir”. (….) É evidente que eu não partilho de todas as análises de Frei Armindo Augusto - o sentido do sagrado em Torga parece-me de essência mais pagã do que cristã, ou melhor parece-me escapar a todas etiquetas da história das religiões - mas o conjunto é de grande profundidade, o homem e o escritor foram profundamente compreendidos e amados. Teve mil vazes razão para reeditar e prefaciar esta obra fundamental. Obrigado ainda por ter pensado em me oferece r a leitura! Peço-lhe que acredite, senhor e caro colega, na minha simpatia muito respeitosa”. (tradução do Francês)
Louis Soler
A UMA VELHA MAUSER
Adormecida a deixei
entre os remorsos e os destroços
da memória enjeitada
da liberdade,
transfigurada em arado
que não conheceu terra
para desbravar.
Gatilho ao peito
e 5 balas sem norte
que na vida não se acerta
por maior que seja a sorte
lá ficou de cão ao lado
a mira descompensada
num adeus desesperado
a descontar
às vitórias,
por ganhar.
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Descanso
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
STABAT MATER
.
Um dia deixaste de poisar os olhos sobre os objectos
próximos e demorava-los nos cantos altos e nas junturas
do telhado.
os tens gestos de levar o lenço às pálpebras esvaziavam-se
da consciência do momento em que o xaile negro te caía
de um ombro e ias mergulhar-te na escuridão do quarto.
nas rugas da tua boca desenhava-se para sempre a atitude
de presenciar aquela hora em que se cumpriu a tua solidão.
um dia deixaste de ir e vir da cozinha para o quarto dele
com esse andar pesado e atento de quem conhecia cada tábua
do soalho e a calcava com pressão diferente.
olhavas a figueira do pátio que secara sem explicação.
um dia desceste os quatro degraus da varanda
antiga e foste chorar voltada para a parede branca.
rio de silêncio sem margens sem origem.
Fernão de Magalhães Gonçalves
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg34_UKVXMOlzRwQI0X4OVOEQE2TYpEzOrKft5P3zalET-dDK_SlaWdDZGC8EPckWqIYpqUY8ZTsDVyV1PoztxNnfvA2MlrGE8d9XHRILZxuSMyTGkEI0SdFiockl0wAugw0LZI-ocHQCiG/s400/_Santa_catarina.jpg)
Um dia deixaste de poisar os olhos sobre os objectos
próximos e demorava-los nos cantos altos e nas junturas
do telhado.
os tens gestos de levar o lenço às pálpebras esvaziavam-se
da consciência do momento em que o xaile negro te caía
de um ombro e ias mergulhar-te na escuridão do quarto.
nas rugas da tua boca desenhava-se para sempre a atitude
de presenciar aquela hora em que se cumpriu a tua solidão.
um dia deixaste de ir e vir da cozinha para o quarto dele
com esse andar pesado e atento de quem conhecia cada tábua
do soalho e a calcava com pressão diferente.
olhavas a figueira do pátio que secara sem explicação.
um dia desceste os quatro degraus da varanda
antiga e foste chorar voltada para a parede branca.
rio de silêncio sem margens sem origem.
Fernão de Magalhães Gonçalves
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Stabat Mater
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
CURRÍCULO
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João Magalhães Gonçalves é Padre Franciscano, nasceu a 18 de Fevereiro de 1939, em Freiria, freguesia de Jou, Concelho de Murça.
Andou pelas sete partidas do mundo, se assim se pode afirmar: Braga, Torres Vedras, Leiria e Lisboa, onde se ordenou sacerdote em 15 de Agosto de 1963, Guiné, Angola e Moçambique. Foi secretário do Prefeito Apostólico da Guiné e capelão militar em Angola. Em 1968 foi para Moçambique. Na cidade da Beira foi coadjutor da paróquia da Catedral.
Em 1973, é colocado no Seminário de Santo António de Chimoio onde leccionou a disciplina de Português, aos então 6º e 7º anos. Entra no Ensino Oficial, quando o Ensino particular foi nacionalizado, logo após a Independência do País em Junho de 1975.
A 12 de Fevereiro de 1976, o Curso Teológico é equiparado a Licenciatura em Filologia Clássica, das Faculdades de Letras. Em 16 de Fevereiro de 1977, por força do Despacho do então Ministro da Educação Científica Sottomayor Cardia, complementa as habilitações próprias para o Ensino Secundário, frequentando as cadeiras de Linguística Portuguesa I, Literatura Portuguesa II(da Licenciatura de Filologia Clássica) e Introdução aos Estudos Históricos, com aproveitamento e média de 14,5 valores.
Em Dezembro de 1976, regressa Portugal e, em Janeiro de 1977 é colocado, após concurso, na Escola Secundária Eça de Queirós, na Póvoa de Varzim.
Em 1978-80 lecciona na Escola Secundária Camilo Castelo Branco em Vila Real.
Faz o estágio pedagógico em Setúbal, 1980-82 na Escola Secundária de Bocage, em Setúbal. Aí continua nos últimos 29 anos, como professor de Português, em algumas escolas desta cidade. Em 8 de Agosto de 1984 passa a professor efectivo. Em 1997 redita o trabalho de Armindo Augusto” O Drama de Miguel Torga” sob o título “Miguel Torga, o Drama de existir”
Em 27 de Novembro de 1999, entra no Quadro dos Professores de Nomeação Definitiva, atingindo o topo da Carreira na subida ao 10º escalão.
Aposentou-se em Julho de 2005, procurando sempre conciliar a vida de professor com as suas responsabilidades de padre franciscano.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEEgfvI8GvYupSDYWzhlNzqgv38Z2BnQLFr9CYKI4x79VJfW70gNUkAR_crh3aax8w_NOz5G_9eqk82xUzb5RdvtqCySmgYSBdWYLOqZcUg_ux-qN4DZw6LNDjtvc-o5DHxtow8AoyaDoU/s400/PICT1681.l.l.jpg)
João Magalhães Gonçalves é Padre Franciscano, nasceu a 18 de Fevereiro de 1939, em Freiria, freguesia de Jou, Concelho de Murça.
Andou pelas sete partidas do mundo, se assim se pode afirmar: Braga, Torres Vedras, Leiria e Lisboa, onde se ordenou sacerdote em 15 de Agosto de 1963, Guiné, Angola e Moçambique. Foi secretário do Prefeito Apostólico da Guiné e capelão militar em Angola. Em 1968 foi para Moçambique. Na cidade da Beira foi coadjutor da paróquia da Catedral.
Em 1973, é colocado no Seminário de Santo António de Chimoio onde leccionou a disciplina de Português, aos então 6º e 7º anos. Entra no Ensino Oficial, quando o Ensino particular foi nacionalizado, logo após a Independência do País em Junho de 1975.
A 12 de Fevereiro de 1976, o Curso Teológico é equiparado a Licenciatura em Filologia Clássica, das Faculdades de Letras. Em 16 de Fevereiro de 1977, por força do Despacho do então Ministro da Educação Científica Sottomayor Cardia, complementa as habilitações próprias para o Ensino Secundário, frequentando as cadeiras de Linguística Portuguesa I, Literatura Portuguesa II(da Licenciatura de Filologia Clássica) e Introdução aos Estudos Históricos, com aproveitamento e média de 14,5 valores.
Em Dezembro de 1976, regressa Portugal e, em Janeiro de 1977 é colocado, após concurso, na Escola Secundária Eça de Queirós, na Póvoa de Varzim.
Em 1978-80 lecciona na Escola Secundária Camilo Castelo Branco em Vila Real.
Faz o estágio pedagógico em Setúbal, 1980-82 na Escola Secundária de Bocage, em Setúbal. Aí continua nos últimos 29 anos, como professor de Português, em algumas escolas desta cidade. Em 8 de Agosto de 1984 passa a professor efectivo. Em 1997 redita o trabalho de Armindo Augusto” O Drama de Miguel Torga” sob o título “Miguel Torga, o Drama de existir”
Em 27 de Novembro de 1999, entra no Quadro dos Professores de Nomeação Definitiva, atingindo o topo da Carreira na subida ao 10º escalão.
Aposentou-se em Julho de 2005, procurando sempre conciliar a vida de professor com as suas responsabilidades de padre franciscano.
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Currículo
domingo, 17 de janeiro de 2010
ATÉ AO MAR
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![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjviw5uRYEyq4GEUCxtnN8m6MwpUM0OIr3kygXVjfOveoFGTW1zhTSEPWDPVnSchGo6GiqC4EPMTkLw_RVHhQNBN5p-2cF46-VkiDl6WBDX4mO80DnZr-kqI0R0phtsrNXXeTv_pJrOIWsa/s400/HPIM2558.JPG)
(ao Aberto Moreira)
Rio
a deslizar
devagar
com saudades da nascente,
e a foz ainda longe…
e na corrente de margem
a margem, destino: a vida
no barco que trazemos a evolver-nos a alma
sempre ao sabor das águas
mágoas
e desgostos
afectos sem trégua
a desaguar
em estrelas, céu e mar.
(ao Aberto Moreira)
Rio
a deslizar
devagar
com saudades da nascente,
e a foz ainda longe…
e na corrente de margem
a margem, destino: a vida
no barco que trazemos a evolver-nos a alma
sempre ao sabor das águas
mágoas
e desgostos
afectos sem trégua
a desaguar
em estrelas, céu e mar.
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Até ao mar
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
FREI DANIEL TEIXEIRA
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcqznLHfOmiW3OslaO015EaQecsHpNVpR66kZd_lV36ecWIYWTLUPI7J_e6UW9yZBGAJs9m23zS4rVybolQQW4QPQ9O9dvxzLwetAK-3KQwIooTBhaHniqwC5CWDpSaE8-DX6LE08iZX2m/s400/HPIM3550kj.jpg)
POEMA INCOMPLETO
(Ao último poeta que morrer)
O poeta tocou
o de leve
a palavra
e fez-se vida
fez-se voz…voou
e cantou
a grandeza de tudo.
Afagou os homens e as coisas
por dentro
naquele pudor alvoroçado
de quem toca o que não é seu
mas lhe foi confiado.
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Frei Daniel Teixeira
domingo, 10 de janeiro de 2010
QUARTETO
(ao Prof. Mata Fernandes)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSYPD81JbgkdqMY6O3BNql-R7R1URIKf1ZivtDJujrdImtA_z7aqUIkuez-tA3oL3w5Zt0U9v0U_DyZ1ny9xBKZVBkpwkADqSEdv_VMo_kN1OxgDCsNAkze3Jt3lHtKzJr-vhD99DwOOPK/s400/HPIM386jj1.JPG)
.
Continuas linda
minha rosa de Outono
na luz da cor
na sinceridade da vida
obrigado…
fala-me de magia.
*
Foste bonita
eu sei
e numa lágrima de espanto
vivo a dor do teu fim
ao desapareceres
bela ainda…
fala-me do futuro.
*
Vi-te nascer
crescer
dar flor
e na cor do adeus…
fala-me de eternidade.
*
O cheiro a terra lavrada,
embebeda-me a alma
transtorna-me
troco tudo
troco o fado pelo destino
pela sina que eu leio
nas linhas baças da vida
devotamente
no desmoronar dos dias
até ao meu regresso
em paz…
.
Continuas linda
minha rosa de Outono
na luz da cor
na sinceridade da vida
obrigado…
fala-me de magia.
*
Foste bonita
eu sei
e numa lágrima de espanto
vivo a dor do teu fim
ao desapareceres
bela ainda…
fala-me do futuro.
*
Vi-te nascer
crescer
dar flor
e na cor do adeus…
fala-me de eternidade.
*
O cheiro a terra lavrada,
embebeda-me a alma
transtorna-me
troco tudo
troco o fado pelo destino
pela sina que eu leio
nas linhas baças da vida
devotamente
no desmoronar dos dias
até ao meu regresso
em paz…
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Quarteto
SULTÃO
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8fQgnMKyV7Drs-_fPCU1NLiOD9ZHqLxXhSJ1QNZufIgJd4oaB_CgVj4pPbBWmFmpPm1u3be0k9otThQc1USJ9C1VQwVHkTHJlCZUUV23fvXFXkaRfjyg1Vbq5aiEN4ZxzpHOj6_kU2wZZ/s400/Murillo_Francois+-+Estigmas.jpg)
(peregrino desde Assis)
Aqui me tens
de alma ajoelhada e o coração
aos pulos,
a pedir-te perdão
em nome do Senhor Nosso Deus
vim de longe
para falar à tua alma e ao teu saber
para que ouças a Sua voz
porque também é Pai
e me concedas o favor de rezar
contigo
neste lugar sagrado
sofrer com o pecado grande que é esta guerra
entre irmãos
na terra de meu Senhor Jesus Cristo.
Venho como peregrino e em paz .
- Vai ! De coração entristecido,
o digo:
a tua visita é para mim um tesouro,
as tuas palavras uma lição…
nas tuas mãos leva o meu querer e a minha oração
e a mágoa, que me fica no coração,
de te ver partir.
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Poema Sultâo
DR.ª ALDEGUNDES E FREI MIGUEL
.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNu1ibMvQDhcuHVa0BvBZlx5DFAjrvttYO3UbMIeE8Z2GNFJNR3cOabzuIL4vEYo55TNc9vwV4rUcTW8TX17UHkGtEIzewQpe6vQblrLGDaVBWvRmwoiaypGUJfGyd_EHyVDOl8XBacsvt/s400/DSC04959.JPG)
-
À FLOR DO VERSO
A leitura dos poemas deste livro pressupõe, à partida, um constante jogo de cumplicidades entre o poeta e o seu leitor, devido à riqueza ideológica e formal dos seus versos.
Por isso, à medida que vai descodificando a “perfeição” intencional da palavra, o leitor é surpreendido, constantemente, pela linguagem reinventada da escrita, transformada, então, em objecto de arte. Mas não se pense que a preocupação principal do autor é a de avaliar e provocar as competências literária e linguística de quem lê. Se, nos seus versos, há a inovação criadora e dinâmica da palavra, é nos silêncios, angústias e inquietações religiosas e humanas, que encontramos as grandes linhas temáticas desta obra. Elas estão bem presentes nas marcas dolorosas da “estrada”, por vezes, “larga demais”, percorrida pelo poeta e onde trava, quase sempre, uma luta desigual. A amizade e fraternidade são valores contrastantes com a realidade cruel que ele enfrentou e enfrenta, como “cativo deserdado”, a ponto de confessar: “Preciso de colo, de
Assim, embora consciente da asserção de Pessoa “o poeta é um fingidor”, atrevo-me a afirmar que, nestes poemas, podemos encontrar o drama inteiro do Homem ainda que envolto na roupagem das metáforas.
Ao longo da obra são, pois, facilmente descodificadas as marcas profundas do sofrimento humano de todos os tempos: os pesadelos e tormentos do passado “ (…) hoje mais futuro que o presente”; a frustração por tanto ter deixado por fazer “ (…) na vida tão curta / que teve de ser vivida a correr” e a fragilidade do homem sofredor que lembra ao Pai a carência de Amor, in “Pai, sou eu!”. A morte dos amigos e dos entes queridos também não é esquecida pelo poeta. “Era de cardos o caminho, “Promessa”e “Hora di bai” são poemas revelares de que a Amizade é, para ele, um valor imprescindível na linha dos afectos. Mas é em Deus que ele procura apoio, de tal modo desiludido e fragilizado num mundo, onde apenas reina o “deserto” e o “ cansaço”.
Consequentemente, tomamos consciência da contribuição importante do “espaço intertextual” que desde cedo envolve o poeta e enriquece, ainda mais, o conteúdo dos seus versos. Quanto a mim, este livro é, acima de tudo, um mosaico resultante da mistura de códigos, onde valores culturais, religiosos e humanos se materializam na palavra.
E, apesar da notória presença das marcas disfóricas do pessimismo, do sofrimento, da frustração e da desilusão, resultantes da frágil condição humana, elas são superadas pela força da Fé. É ela que as transfigura e sublima! É em Deus que o poeta encontra a certeza do Amor. É na sua missão evangelizadora que ele se realiza verdadeiramente: “Eis que vos mando / como ovelhas para o meio de lobos”!Em suma, é nos valores absolutos que as suas fraquezas, emoções e sentimentos são transfigurados e sublimados!
Maria Aldegundes Fonseca
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À FLOR DO VERSO
A leitura dos poemas deste livro pressupõe, à partida, um constante jogo de cumplicidades entre o poeta e o seu leitor, devido à riqueza ideológica e formal dos seus versos.
Por isso, à medida que vai descodificando a “perfeição” intencional da palavra, o leitor é surpreendido, constantemente, pela linguagem reinventada da escrita, transformada, então, em objecto de arte. Mas não se pense que a preocupação principal do autor é a de avaliar e provocar as competências literária e linguística de quem lê. Se, nos seus versos, há a inovação criadora e dinâmica da palavra, é nos silêncios, angústias e inquietações religiosas e humanas, que encontramos as grandes linhas temáticas desta obra. Elas estão bem presentes nas marcas dolorosas da “estrada”, por vezes, “larga demais”, percorrida pelo poeta e onde trava, quase sempre, uma luta desigual. A amizade e fraternidade são valores contrastantes com a realidade cruel que ele enfrentou e enfrenta, como “cativo deserdado”, a ponto de confessar: “Preciso de colo, de
Assim, embora consciente da asserção de Pessoa “o poeta é um fingidor”, atrevo-me a afirmar que, nestes poemas, podemos encontrar o drama inteiro do Homem ainda que envolto na roupagem das metáforas.
Ao longo da obra são, pois, facilmente descodificadas as marcas profundas do sofrimento humano de todos os tempos: os pesadelos e tormentos do passado “ (…) hoje mais futuro que o presente”; a frustração por tanto ter deixado por fazer “ (…) na vida tão curta / que teve de ser vivida a correr” e a fragilidade do homem sofredor que lembra ao Pai a carência de Amor, in “Pai, sou eu!”. A morte dos amigos e dos entes queridos também não é esquecida pelo poeta. “Era de cardos o caminho, “Promessa”e “Hora di bai” são poemas revelares de que a Amizade é, para ele, um valor imprescindível na linha dos afectos. Mas é em Deus que ele procura apoio, de tal modo desiludido e fragilizado num mundo, onde apenas reina o “deserto” e o “ cansaço”.
Consequentemente, tomamos consciência da contribuição importante do “espaço intertextual” que desde cedo envolve o poeta e enriquece, ainda mais, o conteúdo dos seus versos. Quanto a mim, este livro é, acima de tudo, um mosaico resultante da mistura de códigos, onde valores culturais, religiosos e humanos se materializam na palavra.
E, apesar da notória presença das marcas disfóricas do pessimismo, do sofrimento, da frustração e da desilusão, resultantes da frágil condição humana, elas são superadas pela força da Fé. É ela que as transfigura e sublima! É em Deus que o poeta encontra a certeza do Amor. É na sua missão evangelizadora que ele se realiza verdadeiramente: “Eis que vos mando / como ovelhas para o meio de lobos”!Em suma, é nos valores absolutos que as suas fraquezas, emoções e sentimentos são transfigurados e sublimados!
Maria Aldegundes Fonseca
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Dr.ª Aldegundes e Frei Miguel
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