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À flor do verso
A vida em versos
Não apenas em versos, mas em poesia, porque há diferença essencial entre as duas coisas. Há por aí muitos versos com pouca poesia. E também há poesia sem versos.
João de Magalhães Gonçalves é sacerdote franciscano, e a sua poesia tem por vezes o tom e a sabedoria da de S. Francisco de Assis, cujos ressaibos surgem em poemas como “Alverne”, ou “Em Belém”, ou “Com licença, irmãs formigas”. Mas nesta poesia em que a simplicidade se mistura com a atenção à vida, à natureza, às pessoas (muitos são os poemas dedicados a alguém, como a José Afonso, ou Sophia de Mello Breiner, ou mesmo “Ao meu Bispo” e a tantos que se lhe vêem amigos), topam-se os acontecimentos mais marcantes de uma vida que correu o mundo. A natureza mistura-se com a cultura (há ressaibos camonianos, como o de “Sôbolos rios”), com a Bíblia e a Liturgia. Mas há uma presença constante do humano, dos afectos e da amizade, “livro onde os valores culturais, religiosos e humanos se materializam na palavra “ (do Prefácio de Maria Aldegundes Fonseca). Há resquícios e espuma de viagens naquilo que elas têm de mistério ou emoção; há “esse caminho longe” que é o da vida ansiosa, da ausência, da saudade ou da esperança.
A densidade e simplicidade poética, a natureza afectiva e sensorial, o coração e o deslumbramento do olhar estão bem patentes no poema “Caminho e Cor”: “Era de aromas novas / a primavera / que deixaste atrás de ti, / e de cores sem fim e sem destino. / Natureza e seiva / vida / e o verde-esperança / a renovar / e guardar toda a verdade /no coração, esse altar votivo /da saudade”.
“À flor do verso” é o título desta recolha poética. Mas não se trata apenas de versos, mas essencialmente de poesia. (Correia Fernandes)
João Magalhães Gonçalves, À Flor do verso, Setúbal, 2009.
in VOZ PORTUCALENSE
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