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SINFONIA ALÉM DE MIM
Lúcido ingénuo louco à vela vou
para o país onde não há sois postos
lá realizarei todos os gostos
invisível gaivota ao vento vou.
Nu sem terra sem ouro num fácil voo
cantando a música do sol dos rostos,
matando a sede só com suco e mostos
da terra sou mas ainda lá não estou.
Oásis, paraíso, ilha ansiada
além dos mares brancos dos meus sonhos,
além do tudo mais que eu sou e que é nada.
Além, muito além, sou o que em mim ponho
lúcido ingénuo e louco ao fim do dia
vou sempre muito além da minha sinfonia.
UM SONHO DA TUA MÃO CRIADORA
Eu fui menino, a coisa mais bonita e encantadora,
eu fui criança, a coisa mais formosa e sonhadora,
eu fui pequeno de alma e corpo mais do que uma aurora,
eu fui como uma flor que abre e sabe que desflora.
Eu fui um inocente e um ignorante a toda a hora,
eu fui um caminhante livre pela estrada fora,
eu fui um irmão gémeo da vida madrugadora,
eu fui e sou um homem de alma sempre adoradora.
Eu fui, meu Deus, um sonho da Tua mão criadora,
da Tua mão divina, da Tua mão protectora,
da Tua mão que assegura sempre e que me escora.
Eu fui o que não sei que fui, ó Lume, que em mim mora,
ó Mistério sem tempo, minha eternidade agora,
Vós sois quem me dá vida e minha vida adora.
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O que eu tenho a dizer sobre os “Sonetos Místicos” do Adelino é bastante simples: não me sinto com capacidade suficiente para fazer um juízo pormenorizado sobre esta parte da sua obra. O conteúdo é sem dúvida o de um homem atento a todas as coisas que há na vida e exagera quando faz certas ilações imediatas, com alguma falta de propriedade nas comparações e metáforas . “O que me preocupa é o que me rodeia”, como diz Cesário Verde. Há sequências de sonetos sobre o mesmo tema que, pela sua linguagem menos poética, teriam necessariamente de serem revistos e seleccionados pelo A.. Altera bastante o n.º de sílabas métricas de soneto para soneto. Chego a acreditar que ele nunca terá tido a intenção de os publicar. Disso ninguém terá a certeza. A subjectividade imanente à própria essência da poesia, está por vezes ausente, sobretudo naqueles sonetos em que não temos referências para os analisar, ou são produto dos acontecimentos recentes e marcantes no presente ou no passado. .Não refiro nenhum em particular porque, embora os lesse todos, nunca tive a intenção de fazer uma análise crítica, para o que não tenho competência.. Tentei ajudar, atendendo ao pedido que o Fr. Isidro me fez e não estou arrependido de ter aceite. O Adelino foi um homem de espírito, empenhado, de grande riqueza interior, desprendido, atento a tudo e a todos numa alegria franciscana de pressa e entrega.
João Magalhães